Câncer de Mama: 1 em 5 Mulheres Recusa Ajuda por Medo

Câncer de mama: recusas de ajuda e a vulnerabilidade feminina

Estudos recentes indicam que aproximadamente uma a cada cinco mulheres diagnosticadas com câncer de mama optam por não solicitar ou aceitar apoio durante o tratamento. O principal motivo para essa recusa é o medo de sobrecarregar os outros, revelando uma preocupação com o bem-estar alheio em meio a uma fase tão desafiadora de suas vidas.

Dados alarmantes sobre o câncer de mama

Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 73 mil mulheres deverão ser diagnosticadas com câncer de mama em 2025. Essa estatística tem apresentado um crescimento constante ao longo dos anos, o que resulta em impactos não apenas físicos, mas também emocionais e financeiros nas vidas das brasileiras e suas famílias. Infelizmente, muitas dessas mulheres não recebem o apoio necessário para enfrentar o tratamento e, em muitos casos, sentem-se culpadas por sua vulnerabilidade.

Motivos para a recusa de ajuda

Uma pesquisa conduzida pelo Datafolha, a pedido da farmacêutica AstraZeneca, revelou que 18% das pacientes com câncer de mama já deixaram de pedir ou recusaram ajuda. Dentre as entrevistadas, 65% mencionaram o medo de sobrecarregar familiares e amigos como a principal razão para essa recusa. Além disso, 47% das participantes acreditam que deveriam ser capazes de lidar com a situação sozinhas.

Outros fatores que contribuem para essa recusa incluem a vergonha e o constrangimento de precisar de ajuda (40%), a sensação de se sentir incompreendida (30%) e a percepção de não ter ninguém em quem confiar (21%). A pesquisa coletou dados de 241 pacientes, sendo que 52% delas ainda estavam em tratamento e 48% já haviam finalizado suas terapias.

Dificuldades emocionais enfrentadas

Os desafios emocionais são predominantes entre as pacientes. A pesquisa indicou que muitas delas sentiram a falta de apoio psicológico durante o tratamento. Quatro em cada dez mulheres relataram que não tinham um espaço para compartilhar experiências com outras que enfrentavam a mesma realidade. Além disso, houve uma carência em ter alguém com quem conversar sobre medos e preocupações, bem como dificuldade no acesso a consultas com psiquiatras ou psicólogos.

A maioria das pacientes relatou ter recebido acolhimento por parte dos profissionais de saúde, embora ainda existam áreas que necessitam de melhorias. As queixas mais comuns incluem a falta de clareza sobre exames e tratamentos (36%) e a ausência de atenção às dúvidas e preocupações das pacientes. Um quarto das entrevistadas sentiu que suas opiniões e decisões não foram consideradas.

A psicóloga Luciana Holtz, presidente do Oncoguia, afirma que quando uma mulher com câncer diz que quer ser ouvida, ela está pedindo mais do que apenas atenção, mas também presença e reconhecimento de suas vontades e prioridades nas decisões sobre o tratamento. Para Holtz, a empatia é uma habilidade que as equipes de saúde devem cultivar, e instituições que investem em espaços de escuta e apoio emocional transformam não apenas o cuidado, mas também a cultura nas relações de atendimento.

Desafios financeiros e profissionais

A fase de tratamento também traz desafios financeiros significativos. Quase 48% das pacientes relataram dificuldades para acessar benefícios previdenciários, como auxílio-doença ou aposentadoria, além de problemas para arcar com medicamentos e exames não cobertos pelos planos de saúde. O custo de transporte para os tratamentos, alimentação e despesas básicas, como moradia, também se tornaram desafios para quatro em cada dez entrevistadas.

Em relação ao trabalho, 72% das mulheres estavam empregadas no momento do diagnóstico, com 52% ocupando vagas formais. O emprego, que poderia servir como um apoio durante o tratamento, frequentemente se torna uma fonte de estresse. Dois terços das participantes afirmaram que a flexibilidade no trabalho, como a possibilidade de trabalhar remotamente, teria ajudado a conciliar suas responsabilidades profissionais com o tratamento. Além disso, muitas desejavam maior ajuste nas metas e cobranças durante essa fase.

O papel da rede de apoio

Atividades cotidianas que antes eram simples podem tornar-se grandes desafios durante o tratamento do câncer. Quatro em cada dez mulheres relataram dificuldades em manter a casa limpa e organizada, enquanto 35% sentiram falta de apoio para a preparação das refeições. A falta de tempo e condições para realizar compras ou cuidar dos filhos também foi um desafio significativo.

Para contornar essas dificuldades, 60% das pacientes contaram com o apoio de seus companheiros e filhos, sendo que 47% consideraram seus maridos como os principais cuidadores durante esse período. A presença de uma rede de apoio é fundamental para ajudar as mulheres a enfrentarem os desafios do câncer de mama.

Reflexões dos cuidadores

Uma pesquisa adicional, também realizada pelo Datafolha em parceria com a AstraZeneca, analisou a perspectiva dos cuidadores de mulheres com câncer de mama. Ao todo, 600 pessoas, incluindo familiares, amigos e colegas de trabalho, foram ouvidas. A maioria dos cuidadores relatou um apoio emocional forte, e a ajuda se estendeu a tarefas práticas, como compreender informações sobre a doença e auxiliar nas tarefas diárias.

Porém, muitos cuidadores expressaram a sensação de sobrecarga, com 45% afirmando que se sentiram sobrecarregados. A falta de orientação e informações sobre como lidar com a situação foi um ponto destacado por 67% dos cuidadores. Holtz destaca que a busca por apoio psicológico e a participação em grupos de suporte são caminhos cruciais para lidar com essa experiência desafiadora.

O câncer de mama é uma jornada que não deve ser enfrentada sozinha. O apoio emocional, a empatia e a comunicação aberta são essenciais para que tanto as pacientes quanto seus cuidadores possam navegar por essa fase com mais leveza e compreensão.